Perfect Little Dream
My dreams they keep a hold of me My guide when I can't seesegunda-feira, junho 11, 2007
"Estranha Forma de Vida"
Essa terceira angústia era muito simples e,ao mesmo tempo, muito trágica:o meu pai começara a suspeitar de que não éramos imortais, e isso tirava-lhe de noite o sono e de dia o ânimo para medir ladrilhos, vivendo na angústia permanente de saber-se mortal, e vendo desmoronar-se como um castelo de cartas a sua crença na existência de Deus, conforme um dia, à sua maneira, me fez saber.
- O céu não existe - disse-me de repente, agachado com a sua fita métrica à entrada de uma luxuosa mansão daquele bairro, o Bonanova, ao norte de Barcelona.
- Como sabes? -perguntei-lhe.
- O teu pai anda a ler Unamuno, um grande pensador espanhol que viveu angustiado desde o momento em que descobriu o que eu acabo de constatar:o céu não existe. Daqui de baixo o teu pai vê perfeitamente, vê que o céu é mentira e também vê que é tudo uma merda.
(...)
- Mas gostaria - prosseguiu o meu pai - que guardasses segredo , que não dissesses nada à tua mãe.Ela merece continuar a ser feliz,não lhe desejo de maneira nenhuma um ar infeliz.
- Não lhe vou dizer nada.
Por um momento,senti-me muito orgulhoso de ser o cúmplice do meu pai.
- Há coisas - disse ele - que as crianças, tal como os homens, devem saber calar. Lembra-te do que acaba de dizer o teu pai para quando fores adulto não teres... - ficou a pensar no final da frase e acabou por se repetir, via-se que gostava da expressão - ...um ar infeliz.
'Estranha Forma de Vida'
Enrique Vila-Matas
- O céu não existe - disse-me de repente, agachado com a sua fita métrica à entrada de uma luxuosa mansão daquele bairro, o Bonanova, ao norte de Barcelona.
- Como sabes? -perguntei-lhe.
- O teu pai anda a ler Unamuno, um grande pensador espanhol que viveu angustiado desde o momento em que descobriu o que eu acabo de constatar:o céu não existe. Daqui de baixo o teu pai vê perfeitamente, vê que o céu é mentira e também vê que é tudo uma merda.
(...)
- Mas gostaria - prosseguiu o meu pai - que guardasses segredo , que não dissesses nada à tua mãe.Ela merece continuar a ser feliz,não lhe desejo de maneira nenhuma um ar infeliz.
- Não lhe vou dizer nada.
Por um momento,senti-me muito orgulhoso de ser o cúmplice do meu pai.
- Há coisas - disse ele - que as crianças, tal como os homens, devem saber calar. Lembra-te do que acaba de dizer o teu pai para quando fores adulto não teres... - ficou a pensar no final da frase e acabou por se repetir, via-se que gostava da expressão - ...um ar infeliz.
'Estranha Forma de Vida'
Enrique Vila-Matas
Etiquetas: Livros
publicada por B. Dante 1:12 da manhã 
Comentários:
<< Página inicial
Há cada coincidência.... Hoje, umas horas antes de pensar sequer vir aqui, alguem comentou a inevitabilidade de se ler Vila-Matas. Eis mais um empurrãozinho.
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial
Arquivos
maio 2006 junho 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 setembro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 setembro 2008 dezembro 2008 janeiro 2009 fevereiro 2009 março 2009
Subscrever Mensagens [Atom]